O Perdão
Perdoar e porquê perdoar
Fomos educados para “perdoar” de uma maneira que não só não é saudável como ainda por cima nos deixa impotentes.
Antes de poder sequer pensar em perdoar é imperativo livrar-nos das falsas noções que envolvem o perdão.
Perdoar não significa Esquecer. Virar a página não significa esquecer. Em realidade, pedir a alguém para esquecer é o mesmo que pedir um sacrifício de auto-amputação. Esquecer um evento do passado é exigir esquecer uma parte de quem somos. O perdão ajuda a memória a curar-se.
Perdoar não é Negar o que aconteceu. Quando alguém nos magoa mesmo a sério, a nossa primeira linha de defesa é negar o que nos está a acontecer. Já reparou que quando alguém lhe conta sobre um evento dramático a sua primeira reacção tende a ser “não acredito!”. A negação é como uma parede que construímos para evitarmos a dor e todas as emoções que nos deprimem.
Perdoar é muito mais que um acto de Vontade. Mas é assim que ensinamos as crianças a perdoar! “Pede desculpa ao teu irmão!”, “Tens que desculpar a tua professora, foi sem querer.”, “Dá um beijinho à mãe, ela castigou-te mas foi para o teu bem.” Tudo isto exige um perdoar forçado, carregado de força de vontade. A maioria dos educadores, incluindo os pais, tratam o acto de perdão como uma fórmula mágica capaz de corrigir qualquer erro cometido contra a nossa integridade.
O Perdão não pode ser dado como uma Ordem. O perdão é uma atitude de liberdade plena, ou então não existe, não pode nunca ser forçado. Ou o sentimos ou não. Na tradição cristã, por exemplo, há uma obrigação para perdoar. O Pai-nosso (uma oração que pessoalmente considero bonita) é interpretada de uma maneira literal na afirmação “Perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Aqui há um “tens que perdoar” implícito. “Temos” que perdoar quem nos ofende. É capaz de imaginar a tempestade interior causada no confronto entre o desejo de perdoar e a hesitação provocada por sentimentos e emoções que gritam por ser ouvidos?
O Perdão não nos leva de volta ao tempo anterior à ocorrência da Ofensa. Para muitas pessoas o perdão significa a reconciliação com quem nos magoa. Em realidade o perdoar não tem nada a ver com a reconciliação. Pode haver perdão sem nunca suceder a reconciliação. Nós podemos perdoar outro, mesmo na sua ausência, mesmo que a pessoa tenha já morrido.
O Perdão não significa ignorar os nossos Direitos. Muitas pessoas acreditam que perdoar um criminoso, um pedófilo, um marido infiel, é encorajar a pessoa a repetir a ofensa. Isto é misturar justiça com perdão. É querer julgar a pessoa e a acção cometida como sendo a mesma coisa. Nunca o é.
O Perdão não significa Desculpar aquele que ofende. Já ouviu expressões como “a culpa não é dele, não sabia mais…”? Perdoar alguém não é o mesmo que desculpar. Desculpar significa absolver a pessoa de toda a responsabilidade moral. Se isto fosse assim, ninguém jamais seria responsável pelas suas acções.
O Perdão não é sinónimo de Superioridade Moral. Alguns actos de perdão servem mais para humilhar do que para libertar. Criamos uma situação de arrogância moral em que aparentemente somos superiores aquele que nos ofende. Mascaramos a nossa necessidade de controlar os outros, de exercer poder sobre outros, num falso perdão. Escondemos assim a nossa profunda humilhação. Possuídos pela vergonha e rejeição, tentamos proteger-nos.
Por fim, Perdoar não significa deixar as coisas nas mãos de Deus. Algumas pessoas adoram proferir a famosa expressão “só Deus pode perdoar”. Isto é proferido pelas pessoas incapazes de perdoar seja quem for. Deus não faz por nós aquilo que nós temos que fazer por nós.
A questão básica é simples: porque temos que perdoar quem nos faz mal?
Porque enquanto não o fizermos iremos carregar em nós o peso do ofensor. Só estaremos livres a partir do momento em que o perdão é sentido a partir do coração.
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Fonte: Adaptado de artigo de Emídio Carvalho, sobre reflexão sobre o perdão
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